Biblioteca Virtual

Avaliação Sistêmica e Avaliação da Aprendizagem nos Ciclos de Formação Básica

 

2 - COMO ESTAMOS AVALIANDO: FINALIDADES E CARACTERÍSTICAS DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM.


CONTEXTO, PRESSUPOSTOS E EXPECTATIVAS

O magistério é um campo de atividade profissional que exige de todos que a ele se dedicam uma formação específica (embora envolvendo várias áreas do conhecimento) e múltiplas competências e habilidades. Não basta ter bom senso e intuição para estar preparado para o exercício do magistério; também não basta, apenas, saber muito bem e dominar o conteúdo de história, matemática, física, português para que alguém se sinta em condições de ser um bom professor de cada uma dessas disciplinas (a formação do professor não é um subproduto da formação do bacharel).

É parte integrante do trabalho rotineiro de todo professor planejar o seu curso, definir estratégias de ação e métodos de ensino, estabelecer objetivos compatíveis com o nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos, interpretar as suas diferentes manifestações ou respostas aos desafios que lhe são apresentados, selecionar ou desenvolver recursos didáticos, definir critérios de seleção e sequenciação de conteúdos etc, tudo voltado para a finalidade de formação dos estudantes. Por isso mesmo, inclui-se como parte indissociável e fundamental do trabalho de todo professor a avaliação da aprendizagem dos seus alunos. É, portanto, inconcebível imaginar o exercício do magistério desprovido de qualquer ação destinada a informar sobre a aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, bem como sobre a eficácia dos meios, recursos e estratégias utilizados.

Assim, saber avaliar bem é uma competência que todo professor precisa ter, embora, na realidade, essa não seja uma qualidade que hoje os distinga. Ao contrário, são conhecidas as deficiências nesse campo, devido a duas razões principais. Em primeiro lugar, os cursos de formação de professores não os têm preparado suficientemente bem para exercer com competência essa tarefa, devido a uma falta de sintonia entre os currículos desses cursos e o perfil de professor que hoje a escola demanda. Em segundo lugar, não está bem estabelecida nas nossas escolas uma "cultura de avaliação" (práticas e concepções) na qual essa atividade deixe de ser algo estranho (reconhecido, mas não incorporado ao sistema e à rotina de trabalho) e se torne algo sistemático, permanente e inerente ao trabalho de todo professor. Esse é um quadro preocupante porque num regime em que os alunos são aprovados ou reprovados ao final de cada ano, as consequências de uma avaliação deficiente são dramáticas (e, por vezes, traumáticas) para os alunos, podendo causar-lhes prejuízos irreparáveis.

Uma evidência dos efeitos negativos que uma maneira inadequada de avaliar produz pode ser encontrada nos próprios professores, quando são solicitados a lembrar-se das experiências de avaliação que viveram como estudantes. Mas, uma situação de avaliação não seria vista ou sentida como uma experiência constrangedora e desprazerosa, caso estivesse orientada para o benefício e crescimento das pessoas avaliadas. Se isso ainda não acontece, as razões precisam ser investigadas e explicitadas para que possam ser evitadas. No entanto, é possível identificar, sem muito esforço, desvios e equívocos inaceitáveis que estão presentes ainda nas avaliações realizadas nas nossas escolas.

Por exemplo, é inadmissível que a avaliação seja utilizada como instrumento de coação, de repressão, de punição ou, então, como meio de impor ordem ou disciplina em classe. O que tem a avaliação da aprendizagem a ver com tudo isso ou, até mesmo, com distribuição de "pontos" para trabalhos que nunca são lidos, para exercícios que não são corrigidos e para "bom comportamento" em sala de aula? Em situações como essas, o que nos informa a "nota" do aluno sobre o que ele sabe ou não sabe, sobre as suas necessidades e dificuldades, sobre suas qualidades e interesses e sobre os seus progressos? Nessas condições, como pode um professor sentir-se moralmente autorizado a decidir sobre a promoção ou reprovação de um aluno? Como pode sentir-se profissionalmente realizado e satisfeito com seu trabalho?