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Os deslocamentos populacionais em diferentes períodos da História, envolvendo escalas espaciais diferenciadas (entre campo e cidade, entre cidades na mesma região, entre regiões num mesmo país e entre países), vêm mostrando que expressam organizações sociais complexas (guerras, refugiados, expatriados políticos) e problemas econômicos conjunturais. Na verdade, o mundo se reestrutura em novas ordens políticas, relações de poder, e a cada nova ordem mundial correspondem várias (des)ordens econômicas, problemas envolvendo relações de trabalho e qualificação refletindo no espaço produtivo. Como parte desse movimento temos diferentes fluxos de população. Portanto, as migrações são um fenômeno do cotidiano do espaço mundial. Entendê-las, interpretá-las é procurar entender um fenômeno que interfere na vida de todos, das cidades, do campo, dos países, das regiões. A história e a geografia se encontram nas interpretações desse fenômeno. No movimento da história estão as explicações dos povos se movimentando e lutando por conquistas de território, invasões de povos bárbaros, fugas de perseguições étnicas e de repressões políticas, busca de sobrevivência e trabalho. Na geografia estudamos as redefinições territoriais e as implicações dessa mobilidade espacial no desenvolvimento das diferentes regiões: no fenômeno de metropolização e desmetropolização, nas políticas que precisam construir a infra-estrutura necessária ao crescimento urbano e rural, na organização do espaço público envolvendo direitos sociais, tais como educação, saúde e moradia, direitos de cidadania. Não conseguiremos entender esse fenômeno que compõe o cotidiano, se não buscarmos explicações de natureza cultural, política, econômica e de poder. Nas explicações de ordem cultural encontram-se pistas para a compreensão da luta por identidades regionais que se agravam no movimento da globalização* e provocam guerras como a da Iugoslávia, a da Tchethênia, a dos hutus e tutsis na África, a dos judeus e palestinos, dentre outras. Nas explicações políticas estudamos a redefinição da ordem mundial, a formação de blocos econômicos, o redesenho do mapa do mundo pós Guerra Fria. Encontramos também pistas nas lutas nacionalistas, na crise do Golfo Pérsico, nas questões ideológicas que dividiram os enfoques de desenvolvimento capitalista e socialista e sua desestruturação. É importante notar que o envolvimento e as definições políticas envolvem situações e definições econômicas, no fundo, ordenando uma relação de poder que se expressa na estruturação espacial. O que significa isso? Significa que os países e regiões, através de seu poderio econômico e bélico, do desenvolvimento tecnológico e das pesquisas, dos investimentos sociais e da preservação ambiental, vão se estabelecendo como mais ou menos poderosos nas definições internacionais. Um país com uma política de desenvolvimento que mantém um certo número de oportunidades de empregos, qualidade de vida para a população, produtos de qualidade aceitos e vendáveis no mercado mundial, estará sempre atraindo populações de países na situação inversa, o que pode ser identificado nos rumos dos movimentos populacionais. O continente africano é um exemplo clássico, infelizmente. Por outro lado, o mesmo acontece num mesmo país, entre regiões e num mesmo estado. Basta que os investimentos enfoquem um espaço delimitado e deixe outros tantos a descoberto, que a problemática está instituída. Assim se processa o deslocamento das pessoas em alguns momentos da História brasileira para regiões específicas. O povoamento inicial está intimamente relacionado com os deslocamentos populacionais: o litoral, o interior na busca do ouro e das pedras preciosas, o movimento dos africanos, dos portugueses e posteriormente de italianos, japoneses, dentre outros. No movimento da industrialização da segunda metade do século XX, será o êxodo rural a característica principal das migrações brasileiras. Isso vai mudar a organização espacial, as demandas da sociedade, reestruturando todo o mapa do Brasil. Esse êxodo vai sendo dirigido também para a região sudeste, principalmente no eixo Rio-São Paulo, com o início da industrialização, da constituição financeira da cidade de São Paulo e da capital federal no Rio de Janeiro. Na continuidade desse movimento traz uma outra característica, que será de formação das metrópoles nacionais e do agravamento das questões urbanas. O mesmo vai sucedendo com algumas capitais em que os investimentos são realizados. As políticas desenvolvimentistas, a criação de órgãos para incentivar e gerenciar o desenvolvimento de algumas regiões, são insuficientes para ordenar o processo demográfico e a organização do território. Entre as políticas desenvolvimentistas brasileiras que incentivaram o movimento migratório temos a do povoamento incentivado da Amazônia nas décadas de 60/70, que movimentaram sulistas e trouxeram sérios problemas relacionados à posse da terra e de natureza ambiental. A criação de órgãos como a SUDENE, não supera as dificuldades do nordeste, que vai se configurando no Brasil como uma região de perda população para o sudeste, para o centro-oeste (especificamente Brasília) e para as fazendas da Amazônia. O garimpo e a extração madeireira, também provocam deslocamentos populacionais desordenados. As implicações desses deslocamentos são inúmeras, tais como a demarcação de terras indígenas, o desgaste ambiental, a falta de planejamento para um desenvolvimento sustentável, o trabalho escravo, o surgimento de núcleos urbanos, tais como os da região Amazônica no Brasil. A combinação novos pólos de crescimento e oferta de empregos têm redirecionado as mobilizações e deslocamentos de população no Brasil e no mundo. A geografia e o mapa dos empregos estão mudando com a ampliação de novas fronteiras econômicas que surgem em velocidade estonteante em direção aos interiores dos estados do RS, SC, PR, SP, MG, RJ, GO, BA, CE, PE. É a tecnologia abrindo frentes de trabalho em lugares nunca antes imaginados. Assim, é
possível perceber que o fenômeno migração
não tem tempo e espaço determinado de expulsão
e atração. Dependendo das variáveis políticas,
econômicas e naturais os deslocamentos estão sempre ressignificando
o espaço. 1. Liste em itens o que o texto trouxe de novidade sobre o tema estudado ordenando informações sobre o movimento migratório e a produção do espaço geográfico. 2. Que hipóteses você tem atualmente para interpretar o atual movimento migratório? 3. Que relações existem entre o movimento migratório regional no Brasil e a produção do espaço brasileiro? ATIVIDADE 2 - INVESTIGAÇÃO A) Coleta de dados sobre as políticas desenvolvimentistas que envolvem a migração e o crescimento regional brasileiro, consultando a referência bibliográfica. B) Faça um comentário a partir da leitura dessas políticas, destacando a questão socioambiental. ATIVIDADE 3 - SÍNTESE A) Proponha um encaminhamento para o desenvolvimento regional brasileiro levando em consideração o que já foi feito (as políticas, os incentivos, o que não deu certo), o crescimento rural e urbano, as diferenças regionais e uma proposta de desenvolvimento sustentável. B) Mapear as informações do texto.
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